Preconceito ainda atrapalha procura e adesão ao tratamento; veja os motivos para fazer o teste e prevenir o HIV ainda hoje
Validado porDr. Ralcyon TeixeiraInfectologiaCRM 120762/SP
Médico infectologista diretor da divisão médica do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Tem residência Médica em Inf...
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Publicado em 4 de dezembro de 2023De 1980 até a metade de 2022, o Brasil teve mais de um milhão de casos de Aids notificados, de acordo com o Boletim Epidemiológico de HIV e Aids 2022. Os dados mostram, porém, que nos últimos dez anos houve um aumento expressivo dos casos de Aids – a doença provocada pelo HIV – entre a população de 15 a 24 anos, o que chama atenção sobre a necessidade de reforçar quais são as formas de prevenção e tratamento, já que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece uma gama de opções gratuitas e eficazes para evitar o HIV e tratar a Aids.
É em virtude disso que no dia 1º de dezembro, data em que é celebrado o Dia Mundial de Luta contra a Aids, o Ministério da Saúde chama atenção para duas barreiras invisíveis que atrapalham quem quer se proteger ou fazer tratamento contra o vírus ou a doença: o estigma e a discriminação.
“Precisamos difundir informação e trabalhar o estigma e o preconceito sobre HIV e Aids e os temas que vêm junto com eles como, por exemplo, acerca da população LGBTQIA+ e da educação sexual”, avalia o infectologista Ralcyon Teixeira, diretor da divisão médica do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
O infectologista explica que é importante que a população de adolescentes e jovens adultos que estão sendo mais afetados pela doença saibam que o vírus circula e a Aids ainda existe – e isso não é um problema que acontece só com os outros.
“É por essa razão que a educação sexual é tão importante, afinal, ninguém nasce sabendo como se comportar, como se prevenir e como diminuir a vulnerabilidade. É uma questão de conhecimento”, defende o médico. “Precisamos falar de maneira científica e educacional”, acrescenta.
O receio de fazer o exame de detecção ou de alguém descobrir que a pessoa tem HIV, por exemplo, muitas vezes impede que o indivíduo se informe sobre as mais diversas formas de prevenção do HIV e tratamento, que envolvem relações sexuais protegidas, administração de profilaxia pré-exposição (PrEP), profilaxia pós-exposição (PEP) ou terapia antirretroviral (Tarv).
Essa é mais uma razão para abandonar qualquer preconceito e pensar na saúde, afinal, é essencial ter consciência de que qualquer pessoa está sujeita à infecção pelo HIV – independentemente de idade, gênero ou número de parceiros sexuais.
A boa notícia? Todos os medicamentos para prevenção e tratamento são fornecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) sem burocracias, sem entraves e, principalmente, sem julgamentos.
Tratamento simplificado
Erra quem pensa que o tratamento é difícil de seguir ou apresenta inúmeros efeitos colaterais. De fato, essa era a realidade no passado. Hoje, o avanço da medicina proporcionou boas mudanças: engolir dois comprimidos diários é a ação necessária para manter as taxas virais em níveis baixíssimos ou indetectáveis, o que inclusive impede que a pessoa transmita o vírus.
Em outubro, o Ministério da Saúde anunciou a diminuição da quantidade de comprimidos ingeridos diariamente para as pessoas que vivem com o vírus. Em vez de dois, será um. O medicamento combina dois antirretrovirais, ambos fornecidos pelo SUS: lamivudina e dolutegravir. O remédio facilita a vida do usuário, evita efeitos colaterais e mantém a carga viral controlada. A troca desse esquema terapêutico será realizada de forma gradual.
“O dia a dia de quem faz o tratamento correto contra o HIV é como o de outras pessoas, e é por isso que insistimos tanto na adesão ao tratamento. Infelizmente, mesmo sendo dois comprimidos pequenos e fáceis de tomar, há pessoas que ainda não seguem a prescrição”, explica Teixeira.
“Sabemos que 95% das pessoas que fazem tratamento estão com carga viral indetectável, mas 5% delas ainda não – e isso faz com que essas pessoas fiquem em risco de adoecer e evoluir para a Aids”, alerta o médico.
O receio dos efeitos colaterais dos medicamentos já não tem mais fundamento. “Eles são muito menores e praticamente inexistentes em relação ao que tínhamos no passado. Claro, é necessário fazer seguimento com um médico para avaliar parâmetros renais, ósseos, lipídicos e glicêmicos, mas não há comparação com as medicações do passado”, tranquiliza Teixeira.
As vantagens da adesão ao tratamento são impactantes. “A pessoa evita a Aids, tem vida normal e pode se relacionar com outras pessoas já que, se estiver com carga viral indetectável, também não transmite o HIV para o(a) parceiro(a)”, detalha o infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
Prevenção gratuita e segura
Além de relações sexuais seguras com o uso de preservativos, quem está em risco diário de contrair o vírus tem como melhor amiga a profilaxia pré-exposição (PrEP). Indicada para ser usada de forma contínua, ela impede a infecção caso a pessoa venha a ter contato com o vírus.
“Hoje, a prevenção pode ser feita até por adolescentes, pois está autorizada para a faixa etária e é fornecida de forma gratuita”, explica Teixeira.
Quem passou por uma situação de risco pode contar com a profilaxia pós-exposição (PEP), que consiste em um tratamento iniciado até 72h após a exposição de risco e mantido por 28 dias.
É nos serviços públicos de saúde que a pessoa recebe, de forma respeitosa e acolhedora, informações sobre a prevenção do HIV ou tratamento contra a Aids, além de orientação sobre onde retirar os medicamentos necessários para cada caso.
Para quem está em maior risco, fazer testes periódicos de detecção do vírus HIV é fundamental, pois, em caso positivo, o tratamento precisa começar de forma imediata.
“O tratamento precoce evita que as pessoas tenham tuberculose e prolonga a expectativa de vida, além de preservar o sistema imunológico. Já há algum tempo existe o conceito ‘diagnosticou, tratou’, pois os estudos mostraram que o tratamento precoce evita complicações e doenças oportunistas, ajuda a baixar a carga viral e, em um curto espaço de tempo, colabora para torná-la indetectável”, explica Teixeira.
O ideal, portanto, não é deixar nada para amanhã. A prevenção e o tratamento contra a Aids devem começar ainda hoje. Não importa a sua idade: se informe e cuide-se.